terça-feira, 22 de maio de 2012

Gravura em campo expandido


Gravura em campo expandido, exposição na Estação Pinacoteca, SP, curadoria Carlos Martins, 2012. 
A exposição Gravura em campo expandido, com curadoria de Carlos Martins, curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo, apresenta 100 trabalhos, produzidos entre 1950 e 2011, de 55 artistas brasileiros que incorporaram em sua produção procedimentos da gravura, da impressão e da transferência de imagens, para construir trabalhos da mais diferente ordem, como Regina Silveira, Carlos Vergara, Daniel Senise, Frans Krajberg, Maristela Salvatori, Maria Lucia Cattani, entre muitos outros. Esta é uma das duas exposições que marcam o início das atividades sistemáticas, propostas pela Pinacoteca do Estado, com foco na produção de gravura no Brasil. O Gabinete de Gravura Guita e José Mindlin é um espaço dedicado à gravura. Instalado no terceiro andar da Estação Pinacoteca é composto por três salas, sendo uma apresentando mostras de longa duração e as outras duas exposições temporárias, com diferentes recortes curatoriais. http://sul21.com.br/jornal/2012/04/gravuras-gravuras-e-gravuras-diversidade-e-originalidade/

Maria Amelia Bulhões (27/04/12) 11
Gravuras, gravuras e gravuras: diversidade e originalidade
Em época de galopante avanço das tecnologias digitais, alguns podem se perguntar sobre qual o sentido de uma produção artística tão antiga e tradicional como a gravura. Vista como uma possibilidade de ampliação do alcance da arte, mediante reprodução de cópias com identidade original, a gravura é uma técnica que se caracteriza genericamente por desenhos feitos por incisão em uma superfície dura, sobre a qual posteriormente se coloca a tinta e o papel, obtendo, por pressão, uma série de reproduções.
Consideram-se como originais todas as cópias obtidas por esse processo de impressão, que são numeradas e assinadas pelo artista. De acordo com o material utilizado na produção da matriz, ela recebe uma nomenclatura. As mais conhecidas são: xilogravura (matriz de madeira em que são feitas incisões), litografia (matriz em pedra, trabalhada com óleo), gravura em metal (matriz em placa de metal, trabalhada com ácidos), serigrafia (vedação com estêncil, em processo fotográfico ou não).

Encontram-se atualmente na Pinacoteca de São Paulo três interessantes e diferentes maneiras de abordar essa produção no país. As mostras “Gravura Brasileira no Acervo da Pinacoteca de São Paulo, 100 anos de história” e “Gravura em campo expandido”, ambas com curadoria de Carlos Martins, inauguradas no fim da semana passada, podem ser visitadas até meados de julho, na Estação Pinacoteca. A terceira é constituída pelas gravuras do projeto “Painéis de lambe-lambe | Ação Educativa Extramuros”, expostas nas janelas laterais externas da Pinacoteca.
A primeira mostra, predominantemente histórica, contempla obras de 105 artistas, apresentando mais de 3 mil gravuras, que abordam os grandes temas da história da arte brasileira. Abrangendo desde aprimeira década do século 20 até a primeira década do século 21, os trabalhos não são apresentados de maneira rigidamente cronológica, mas estabelecem laços entre as diferentes produções. Na exposição estão presentes os mais importantes artistas brasileiros, distribuídos em conjuntos como o da Figuração e do Expressionismo, onde podem ser encontradas obras de cunho social, realizadas entre os anos 1920 e 1930. A Nova Figuração e a Arte Pop estão também muito bem representadas por obras que exploram temas relativos à repressão política dos anos 1960 e 70. Expressivo em termos numéricos é o grupo de artistas que se debruçaram sobre a Abstração, tantos os geométricos e construtivos, como os informais. A produção contemporânea é apresentada ao público em sua diversidade temática, de meios e de propostas. Visitar a mostra é fazer uma viagem pela gravura brasileira, desfrutando de um panorama que evidencia tanto a grandeza estética como a representatividade desta produção em diferentes momentos.
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A segunda exposição, “Gravura em campo expandido”, contempla uma percepção mais contemporânea da gravura, ampliando suas abordagens e possibilidades de leitura e interpretação. A mostra conta com cerca de 100 trabalhos de 54 artistas apresentando obras realizadas desde os anos 1950 até os dias de hoje. A exposição apresenta trabalhos que lançaram mão de procedimentos inerentes à gravura, no sentido de transferir formas, texturas ou imprimir uma imagem, de um suporte para outro, sem ser necessariamente o papel. Se tradicionalmente a transferência era feita somente por meio de uma matriz, hoje essa transferência acontece das formas mais variadas. O título escolhido, “campo expandido”, informa que as técnicas de impressão e transferência de imagens contaminou outras áreas do fazer artístico como, por exemplo, a pintura e a fotografia, ou mesmo a escultura, borrando fronteiras, como é típico da contemporaneidade.
Agregando tecnologias mais contemporâneas, Vera Chaves faz reproduções de superfícies de pele do corpo em fotocopiadora, e, ao imprimi-las em grandes dimensões, cria uma visualidade ambígua, que se assemelha a paisagens. Maristela Salvatori elabora um painel em monotipias e fotografia em impressão digital que funcionam como um quebra-cabeça, em que cada parte tem um valor plástico próprio, mas em conjunto elas compõem uma paisagem, com derivações quase abstratas. Maria Lucia Cattani, propõem um livro, em que as páginas são dobradas e nelas são gravados caracteres a lazer. As páginas, finamente vazadas, são apresentadas desdobradas, como uma gravura-objeto. Também Emanuel Araujo realiza uma obra tridimensional, utilizando como base de seu trabalho uma xilogravura que recorta e dobra.
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Esse conjunto de ações em relação à gravura coloca em evidência que essa modalidade técnica de produção artística pode ser inesgotável para a criatividade humana, no mais simples ou no mais complexo de seu fazer.
Maristela Salvatori, monotipia e impressão digital





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